Skip to main content

Manifesto Ágil: 25 anos depois, ainda colhemos os efeitos desse marco. Mas o que, de fato, funcionou? Quais os erros mais comuns e o que ainda precisamos enfrentar para que a agilidade organizacional cumpra seu potencial? Este artigo explora essas questões com uma visão crítica e atual.

Reunimos aprendizados, retrocessos e os desafios que ainda precisam ser superados para alavancar a agilidade nas organizações em um momento de rápidas transformações que exige uma nova forma de agir.

Do Manifesto Ágil à Agilidade Organizacional

O Manifesto Ágil, assinado em 2001, surgiu como uma resposta prática e humana à rigidez dos métodos tradicionais de gestão.  Há quase 25 anos, em uma estação de esqui em Utah, 17 profissionais lançaram um movimento que transformaria o desenvolvimento de software — e, progressivamente, as estruturas organizacionais em todo o mundo.

Vivemos um tempo em que a capacidade de adaptação deixou de ser uma vantagem competitiva e passou a ser uma questão de sobrevivência. Modelos de negócio estão sendo reformulados em meses. Produtos digitais, antes desenvolvidos por grandes times ao longo de trimestres, agora podem ser prototipados com o auxílio de IA em poucas semanas. Nesse cenário, a agilidade organizacional nunca foi tão necessária — e, paradoxalmente, nunca esteve tão ameaçada por suas próprias distorções.

Manifesto Ágil: por que há um descompasso entre seus princípios e o crescimento da agilidade?

De 2001 para cá, a agilidade se expandiu de nicho técnico para mainstream executivo. Atualmente, 94% das empresas afirmam utilizar práticas ágeis em algum grau, segundo a 15ª edição do State of Agile Report da Digital.ai (2023). Porém, apenas 27% afirmam que conseguem praticar agilidade em escala com sucesso .

O Business Agility Institute reforça esse cenário: embora os investimentos em agilidade tenham crescido mais de 60% desde 2019, menos de 40% das empresas perceberam melhora significativa e sustentada em desempenho.

A contradição é clara: fala-se mais de agilidade do que nunca — e colhe-se menos resultados reais. Há algo de estrutural nesse descompasso.

Agilidade organizacional: o que tem funcionado e o que aprendemos com isso?

Apesar do cenário desafiador, há bons exemplos de empresas que conseguiram colher os frutos da agilidade de maneira consistente. E há padrões em comum:

Foco em impacto de negócio, não só em cadência

Métricas como velocity ou lead time têm valor, mas são insuficientes sem conexão com resultado real para o cliente e para a organização.

Cultura de aprendizado deliberado

Times bem-sucedidos operam com ciclos curtos de aprendizagem e ajustes frequentes, com espaço real para testar e errar com responsabilidade.

Estruturas flexíveis e redes de valor

Em vez de apenas “squads” isoladas, empresas bem-sucedidas alinham estratégias, times e incentivos por fluxos de valor reais e não apenas por áreas funcionais.

Clareza e coerência narrativa

As organizações mais eficazes na prática ágil conseguem traduzir o “por quê” da transformação para todos os níveis — do time técnico ao conselho de administração.

Essas características não surgem por acaso. No State of Agile Coaching Report 2023, empresas em estágios mais maduros de agilidade relataram 73% mais satisfação dos colaboradores e 52% mais engajamento dos clientes que organizações iniciantes.

Ilustração de armadilha com corrente representando riscos comuns na adoção do Manifesto Ágil.

Armadilhas da agilidade organizacional: o que precisa ser evitado na prática?

Se há acertos claros, também é nítido o padrão de erros recorrentes que minam a agilidade organizacional:

  • Fetichismo por frameworks prontos: adoção cega de modelos como SAFe, LeSS ou Spotify gera mais ruído que resultado quando desconsidera contexto organizacional e capacidade real de mudança.
  • Desalinhamento entre discurso e poder: autonomia e auto-organização viram slogans vazios quando decisões, recursos e incentivos continuam centralizados nas mesmas estruturas.
  • Síndrome da “squadização” sem propósito: criam-se squads e rituais ágeis como fim em si mesmos, sem conexão com estratégias reais de produto, negócio ou cliente.
  • Métricas disfuncionais que premiam atividade, não resultado: foco excessivo em outputs (número de sprints, tarefas concluídas) em vez de outcomes (valor entregue, aprendizado gerado).
  • Substituição de pensamento sistêmico por “playbooks”: o ágil vira manual de operação. A organização se engessa tentando aplicar fórmulas e perde a capacidade crítica de adaptação.
Esses erros apontam para uma reflexão inevitável: a maior ameaça à agilidade não é a complexidade do mundo externo, mas sim a rigidez do nosso pensamento interno. 

Manifesto Ágil: estamos fazendo as perguntas certas?

O Manifesto Ágil, às vésperas de completar 25 anos, continua profundamente atual. Mas o que ele representa vai muito além de uma lista de quatro valores e doze princípios. O Manifesto é um convite à coragem. Coragem de desafiar estruturas, de priorizar pessoas e propósito. Coragem de entregar valor com integridade, e não apenas com velocidade.

Por isso, talvez a pergunta central que precisamos nos fazer hoje seja:

Estamos realmente dispostos a encarar as mudanças culturais, estruturais e políticas que a agilidade exige para florescer de verdade — especialmente em um mundo moldado pela Inteligência Artificial, onde a adaptabilidade não é mais opcional?

Ilustração inspirada no Manifesto Ágil com ponto de interrogação formado por água, simbolizando o valor de fazer as perguntas certas.

Uma nova era exige uma nova agilidade: insights finais

Se a IA generativa e outras tecnologias exponenciais estão redefinindo o que é possível, a agilidade precisa ser redefinida também. Não em seus valores, mas em sua prática. Mais do que nunca, precisamos de organizações que aprendem rápido, respondem com inteligência e mantêm a humanidade no centro das decisões.

Este artigo inaugura uma série de reflexões que irão aprofundar essas questões com mais densidade, provocação e contexto real. A próxima etapa será olhar com mais atenção para os desafios e distorções que vêm surgindo na tentativa de escalar ou institucionalizar a agilidade.

Porque, se queremos construir organizações verdadeiramente adaptativas, talvez esteja na hora de deixar de tentar “domesticar” o ágil — e começar a escutar, de verdade, o que ele está nos pedindo há quase 25 anos.

Se sua organização está pronta para dar o próximo passo e adaptar-se às novas exigências da agilidade, entre em contato conosco. Nossa equipe de especialistas pode apoiar na jornada de transformação, garantindo que a agilidade seja implementada com eficácia e alinhada às necessidades do seu negócio.

FALE COM UM DOS NOSSOS ESPECIALISTAS

Sócia-Diretora e cofundadora da Bridge & Co., além de Conselheira de empresas de tecnologia. Especialista em práticas de Transformação Ágil e Estratégia Digital, é Engenheira de Produção pela UFRJ e possui MBA Executivo pela Fundação Getúlio Vargas. Desenvolveu sua carreira como empreendedora e consultora, com foco nas disciplinas de engenharia de processos de negócio, gestão de serviços, governança, agilidade e transformação digital, tendo apoiado dezenas de organizações a repensarem estrategicamente o uso de tecnologias digitais em seus negócios.