Organizações mundo afora estão passando por um momento muito peculiar. Esse período é marcado por pressões e desafios, como a busca por resultados sustentáveis a curto e longo prazos; a necessidade de repensar os modelos de negócio dada a “tsunami digital”; e o receio de estarem ficando para trás no tema de Inteligência Artificial (IA). Além disso, muitas organizações aguardam, de certa forma, o desenrolar dos grandes conflitos geopolíticos e militares. Mais do que nunca, a capacidade de rápida adaptação e agilidade na resposta a mudanças será uma competência central para a permanência e crescimento de empresas nesse cenário complexo.
Contexto global
Nesse sentido, o conceito do nearshoring se apresenta como uma grande tendência para o ano de 2025. Desde o auge da pandemia, a cadeia global de suprimentos tem se reconfigurado para que países importadores busquem opções próximas de seus territórios para suprimentos de matéria-prima e produtos estratégicos às suas economias. Para além da tensão EUA – China já relatada, os conflitos no Oriente Médio e na Rússia fazem com que a busca por parceiros estratégicos próximos aos próprios blocos (europeu e americano) seja uma boa aposta.
Contexto econômico
O Banco Mundial prevê um crescimento estabilizado, porém em ritmo fraco para o Produto Interno Bruto (PIB) mundial. A estimativa apresentada no relatório denominado Perspectivas Econômicas Globais¹ prevê crescimento de 2.7%. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) traz uma perspectiva mais agressiva, tendo revisado de 3,2% para 3,3% a previsão de crescimento do PIB global para o ano de 2025.
Já o Brasil tem projeção de crescimento do PIB para 2025 na ordem dos 2,01%, segundo o relatório FOCUS do Banco Central² de 13/12/2024. Em relação à inflação, é esperado um ano estável mantendo o IPCA na ordem dos 4,6%.
A principal variável que merece atenção para o panorama brasileiro é a SELIC. A projeção é de contínuo crescimento da taxa de juros, chegando a um possível patamar de 14% ao ano. Esse cenário impõe às empresas a dificuldade de acesso a crédito bancário, que se manterá caro. Somado ao momento mais conservador do capital de risco circulante mundial, representado pelos fundos de Venture Capital e Private Equity, espera-se que, em 2025, as empresas tenham maior atenção à viabilidade de curto prazo de suas operações. O acesso ao capital será mais seletivo, segundo especialistas.
Contexto empresarial e tecnológico
Os Agentes Inteligentes podem ser definidos brevemente como a evolução e fusão de tecnologias como IA Generativa, Automação Robótica de Processos (no inglês, Robotic Process Automation – RPA) e análises preditivas. São aplicações de IA que não apenas têm a capacidade de interagir com seres humanos (como o Chat GPT), mas principalmente com sistemas e outros agentes, analisando contextos e tomando decisões de forma autônoma. Decisões essas que, em alguns casos, podem superar a capacidade humana.
Para clarear, imagine que um agente inteligente está em funcionamento substituindo um antigo RPA de atendimento ao consumidor. Enquanto o RPA possibilitava apenas algumas ações pré-definidas na árvore de serviços apresentada ao cliente, o agente inteligente tem capacidade de adaptação, de leitura de cenário e de tomada de decisão sobre o que é melhor para aquele caso. Se o agente precisar acessar o banco de dados do ERP da empresa, consultar políticas de desconto e identificar uma regra viável para o caso, poderá – de forma autônoma – sugerir um tipo de desconto que maximize a chance de conversão e compra. Algo feito em segundos, com altíssima capacidade de processar milhões de dados para além do que o humano faria.
O segundo ponto que merece destaque é o advento da IA embutida em corpos robóticos. Robôs humanoides estão chegando ao ponto de viabilidade de fabricação, com aplicações conhecidas como o Optimus³. Segundo Elon Musk, CEO da Tesla, os Optimus começarão a trabalhar nas fábricas da empresa em 2025 e prevê que a partir de 2026 estarão disponíveis para venda e uso em outras empresas.
Os riscos da nova Era
Para além das fraudes ampliadas por IA, riscos relacionados ao vazamento de dados crescem com o advento e proliferação do uso de modelos de IA generativa nas empresas. O ano de 2025 será marcado pelo aquecimento da temática de Regulação e Governança de IA, na medida em que governos e empresas pressionam suas áreas de compliance para pensarem como criar controles que reduzam os riscos de mau uso e vazamento de dados. O avanço da regulação europeia e a corrida do legislativo brasileiro para passar o Projeto de Lei que prevê o início da regulação da IA darão o tom para empresas privadas e públicas se organizarem, assim como aconteceu com o “boom” da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Por fim, mas não menos importante, destacamos o grande desafio relacionado à pauta ESG (no inglês, Environmental, Social e Governance). O avanço da IA requer um enorme consumo de energia. E a ampliação dessa oferta de energia para suportar o crescimento da capacidade computacional não necessariamente virá de fontes limpas. Como conciliar o avanço de tecnologias que têm o potencial de ajudar na descoberta de vacinas e curas de doenças com a minimização do impacto ambiental? A linha tênue entre avanço e retrocesso está nas principais mesas de discussão de governos e organismos internacionais.
Estima-se que os datacenters globais que operam as máquinas necessárias para rodar os modelos de IA, criptomoedas, dentre outros, gastam cerca de 2% de toda a energia gerada no mundo. Em um recente artigo publicado no MIT Technology Review⁴, a jornalista especializada em questões ambientais Casey Crownhart, aponta que não apenas o avanço da IA, mas a eletrificação da mobilidade urbana e do setor industrial se somam nos vetores de maior demanda por energia. O contraponto está na aceleração e expansão do uso de geração de energia solar, eólica e de fontes diversas não poluentes para equilibrar a equação. De toda forma, essa será uma das principais pautas vinculadas ao ESG a partir de 2025.
Conclusão
A Bridge & Co. acompanha de perto grandes organizações nacionais e globais em seus desafios de Business Transformation. Na prática, vemos como esses debates reconfiguram o pensamento estratégico de seus futuros modelos de negócio.
A chamada principal para líderes empresariais é materializar uma cultura de agilidade real em seus negócios, não apenas na teoria e muito menos apenas para as áreas digitais. Cultura de agilidade para tornar seus negócios responsivos o suficiente, possibilitando reagir à materialização das ameaças e usufruir das oportunidades do horizonte.
A Inteligência Artificial é uma lâmina que corta tanto a fruta que queremos comer quanto pode cortar a nossa pele. Aumentar a destreza digital da nossa força de trabalho, tornar-nos capazes de monitorar momentos corretos de investimento e apoiar-nos em redes de parceiros qualificados é o caminho para navegarmos um 2025 menos turbulento.
Desejamos bons ventos a todos e que a travessia seja segura e bem-sucedida!
Fundador e CEO da Bridge & Co., Engenheiro de Produção e Mestre pela COPPE/UFRJ e com MBA Executivo pela Fundação Dom Cabral. É Especialista em Business Transformation com ênfase em transformações orientadas pelas tecnologias digitais com automação de processos, análise de dados e inteligência artificial. Certificado ITIL 4 Managing Professional, ITIL 3 Expert, CGEIT e Auditor ISO/IEC 20.000. Atua também como palestrante, autor e professor de pós-graduação em instituições como UFRJ, FGV, UFJF e Fiocruz.
Fontes
Veja também