O papel do CIO e do CTO evoluiu muito além da tecnologia. Mas quais habilidades relacionadas às finanças corporativas esses líderes precisam dominar para atuar com excelência na gestão executiva digital e gerar valor real para a empresa? Quais práticas fazem diferença para garantir que os investimentos em tecnologia impulsionem resultados concretos e sustentáveis?
Este artigo destaca os conhecimentos financeiros essenciais que todo líder de tecnologia deve incorporar para atuar com visão estratégica, alinhando tecnologia e negócios de forma eficaz.
Quais mudanças redefiniram o papel do CIO/CTO?
Já faz algum tempo que o papel esperado de um CIO (Chief Information Officer) ou de um CTO (Chief Tecnology Officer) nas organizações deixou de se restringir exclusivamente às áreas de TI. O perfil tradicional desses executivos, anteriormente mais técnico e focado na operação, deu lugar a um executivo de negócios com forte fluência digital orientado a resultados. São líderes que entendem de tecnologia e que atuam diretamente na agenda estratégica das empresas, impulsionando crescimento, inovação e vantagem competitiva.
Essa mudança no status quo corporativo foi impulsionada, sobretudo, pelo avanço e influência cada vez maior das tecnologias digitais sobre os resultados dos negócios.
Entre os principais fatores que catalisaram esse movimento nas últimas décadas, destacam-se:
- A pressão por automação e eficiência operacional.
- A adoção de dados e analytics como base para decisões críticas.
- A digitalização da experiência do cliente e a transformação dos canais de distribuição e marketing.
- A consolidação de novas arquiteturas tecnológicas (cloud, APIs, microsserviços).
- A necessidade de segurança cibernética integrada ao negócio.
- O avanço da Inteligência Artificial como novo vetor de produtividade, inovação e vantagem competitiva.
Finanças corporativas: como atua o CIO/CTO moderno na gestão executiva digital?
A mudança de paradigma nesse perfil, ao mesmo tempo que conferiu maior protagonismo aos executivos de tecnologia nas decisões estratégicas das organizações, passou a exigir desses profissionais uma visão cada vez mais estratégica e maior assertividade na seleção e priorização das iniciativas e investimentos tecnológicos. Isso porque essas decisões passaram a impactar diretamente a competividade, a eficiência operacional e o desempenho financeiro das empresas. Um erro de avaliação nesse processo pode gerar impactos significativos no negócio e, em alguns casos, irreversíveis.
Os CTOs e CIOs atuais são responsáveis por garantir que os investimentos em tecnologia gerem valor para o core business. Isso significa que precisam entender como as decisões relacionadas à tecnologia impactam os resultados financeiros.
Ter uma base sólida em finanças permite ao CTO ou CIO tomar decisões mais estratégicas sobre alocação de recursos, análise de retorno e, principalmente, apresentar iniciativas tecnológicas ao board executivo de forma financeiramente sustentável, usando uma linguagem de negócios e não apenas técnica.
Segundo o Gartner, uma estrutura organizacional com um bom alinhamento entre a área financeira, liderada pelo CFO (Chief Financial Officer), e a área tecnológica, representada pelo CTO ou CIO, gera maior confiança entre as partes e, consequentemente, melhores resultados no financiamento de iniciativas digitais.
Empresas em que o relacionamento entre CFO e CTO/CIO é forte têm:
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Finanças corporativas: quais práticas todo CIO/CTO deve dominar?
Como citado anteriormente, o protagonismo financeiro nos investimentos em tecnologia se tornou essencial por parte dos CIOs e CTOs. A seguir, apresentamos algumas ferramentas de gestão financeira executiva que devem compor o repertório técnico de um líder de tecnologia moderno:
Modelagem financeira de projetos
O domínio de modelagem financeira permite ao CTO ou CIO avaliar a viabilidade de iniciativas, estimando custos, benefícios e riscos sob diferentes cenários.
Ao estruturar, por exemplo, um programa de migração para cloud, o executivo precisa ser capaz de revisar criticamente os business cases apresentados, analisando premissas como CAPEX/OPEX, prazos de payback e impacto nas margens financeiras. Esse olhar é fundamental para garantir que a priorização esteja alinhada à estratégia da empresa.
Orçamentação (Budgeting)
Compreender os processos de planejamento orçamentário permite ao CIO ou CTO exercer maior influência e garantir alinhamento na definição do plano anual da companhia.
O CIO/CTO deve atuar como coautor do orçamento corporativo de tecnologia, estruturando, em conjunto com o CFO, um portfólio equilibrado entre manutenção da operação (run the business), ganhos incrementais (grow the business) e apostas estratégicas (transform the business). Para isso, é essencial ter fluência nas alavancas orçamentárias da empresa e visão clara sobre o impacto de cada iniciativa.
Análise de custo e de retorno (TCO, ROI e ROE)
As análises de TCO (Total Cost of Ownership), ROI (Return On Investment) e ROE (Return On Equity) são consideradas básicas, mas muito úteis para comparar e avaliar o desempenho financeiro de iniciativas, orientando decisões de investimento.
O TCO permite estimar o custo total de uma solução ao longo do tempo – incluindo aquisição, manutenção, operação e descarte – e serve como base para calcular o ROI. Enquanto o ROI mede a rentabilidade de um investimento específico, o ROE mede a rentabilidade do capital investido pelos acionistas, quando aplicável.
Em uma empresa com múltiplas demandas concorrentes por investimento, um CTO ou CIO que domine esses conceitos poderão construir narrativas de valor mais robustas para defender suas propostas. Por exemplo, ao disputar recursos com outras iniciativas, é fundamental demonstrar como a substituição de um sistema pode gerar retorno superior à continuidade de uma operação atual.
Leitura de DRE (Demonstração do Resultado do Exercício)
Compreender o DRE permite ao CTO ou CIO identificar onde a tecnologia pode impactar as linhas de custo e receita da empresa.
Se o DRE indicar pressão de margem em uma determinada unidade de negócio, cabe ao executivo utilizar essa informação para priorizar soluções que reduzam custos diretos de entrega do produto ou serviço, automatizem processos manuais ou gerem fontes de receita digital, sempre com uma visão alinhada ao planejamento financeiro da companhia.
Cálculo de depreciação de ativos e decisões de make vs. buy
A depreciação de ativos influencia decisões entre capital e despesa operacional, afetando diretamente o balanço e o fluxo de caixa da organização.
Ao avaliar, por exemplo, a substituição de uma solução legada por um modelo SaaS, o executivo de tecnologia deve entender as implicações contábeis da depreciação residual dos ativos existentes e como isso afeta os resultados.
Decisões de make vs. buy (interno vs. terceirizado) também devem considerar o custo do capital e o impacto que essa escolha terá na capacidade da empresa de gerar retorno eficiente sobre os recursos investidos.
Análise de balanço patrimonial
Entender o balanço patrimonial é essencial para decisões estratégicas, especialmente em contextos de capital restrito ou alavancagem elevada.
Em cenários de reestruturação financeira, as organizações precisam avaliar o impacto de projetos em ativos, passivos e capital de giro. Por exemplo, uma decisão de antecipar investimentos em infraestrutura ou adiar um ciclo de renovação tecnológica deve considerar o nível de endividamento e a posição de caixa da organização.
Insights finais
O CTO/CIO moderno não deve ser apenas um líder de tecnologia, mas um tomador de decisão com visão de negócio integral. Seu papel é garantir que a tecnologia não apenas funcione, mas gere retorno.
Quando possuem conhecimentos referentes às finanças corporativas, esses executivos ampliam sua capacidade de avaliar investimentos com profundidade, dialogar com clareza com os CFOs e tomar decisões baseadas em indicadores de impacto real. Isso permite que a estratégia tecnológica esteja diretamente conectada à lógica econômica da empresa, posicionando o CIO/CTO como um agente essencial de competitividade e geração de valor.
Para que a tecnologia entregue resultados efetivos, é fundamental que o CIO/CTO tenha visão estratégica aliada à gestão financeira. Estamos à disposição para apoiar organizações nessa jornada consciente rumo a resultados duradouros.
É líder de projetos formado em Economia pela PUCC e pós-graduando MBA Executivo com ênfase em Finanças pela Saint Paul. Possui certificações Green Belt Lean Six Sigma, ITIL 4 Foundation e COBIT 2019 Foundation.
Atualmente, gerencia equipes em projetos de gestão de processos de TI e de negócio, seleção de ERP, gestão de serviços e governança de TI, agilidade, em clientes dos setores público e privado.